Pular para o conteúdo principal

Yuri: de homens para homens ou de mulheres para mulheres?

Quando se fala em para quem o yuri é direcionado aqui no Ocidente as pessoas certamente vão fazer um paralelo com o BL, que é de mulheres para mulheres, e responder que é feito de homens para homens. Escutei esse discurso muitas vezes, mas ele está realmente correto? É o que vou explicar agora.

O gênero yuri pode estar mais diretamente relacionado às histórias da Classe S no início do século XX. Com o tempo, o gênero Classe S definhou com o declínio das revistas femininas, mas teve uma influência significativa com a chegada do shoujo manga. Foi nos mangás shoujo que o yuri realmente nasceu, principalmente nos anos 70. 

Imagem de Shiroi Heya no Futari

A explicação acima sobre o início do gênero nos mangás shoujo é importante. O fato das pessoas fazerem do gênero um análogo ao bl certamente os confundiu, mas ele não é uma imagem espelhada do outro; yuri não foi inicialmente escrito por homens, nem apareceu no início em revistas voltadas para homens. 

Agora vamos falar sobre as mangakás, devido a cultura de anonimato entre os autores japoneses é um pouco difícil determinar o gênero deles, os pseudônimos são comuns e assumir o gênero com base em nomes levaria a resultados incorretos. Para determinar o gênero dos autores de yuri, uma pessoa fez uma lista com 150 mangakás e depois pesquisou os seus gêneros, como resultado foi descoberto que dos 150 mangakás, 91 eram do sexo feminino, 20 do masculino e 39 não tinham um gênero listado. Isso significa que 60,66% dos mangakás eram mulheres, 13,33% eram homens e 26% eram desconhecidos. Daqueles com gênero conhecido, 81,98% eram do sexo feminino e 18,01% do masculino. Isso significa que pelo menos 60% desses mangakás eram do sexo feminino como um todo, e no máximo 87% desses mangakás eram do sexo feminino como um todo, dependendo do gênero dos não listados. 

Além do seu gênero também é difícil determinar sua sexualidade, mas alguns deles declaram abertamente que são homossexuais, como Morishima Akiko, Amano Shuninta, Takemiya Jin e Nagata Kabi. 


Agora que já temos algum dado sobre os autores iremos olhar para o fandom. Uma pesquisa de 2007 da Comic Yuri Hime mostrou que 70% de seus leitores eram mulheres. Esta pesquisa tem um viés de resposta e é importante notar que isso foi antes de a revista se fundir com a Comic Yuri Hime S, mais voltada para os homens. De acordo com The File on Yuri Works , apenas 62% dos leitores de Yuri Hime S eram do sexo masculino em 2008, antes da fusão das revistas.

Além disso, uma pesquisa informal foi conduzida por Verena Maser para seu artigo "Beautiful and Innocent: Female Same-Sex Intimacy in the Japanese Yuri Genre". O resultado foi que de 1.352 pessoas, 52,4% se identificaram como mulheres, 46,1% se identificaram como homens e 1,6% se identificaram como outros. A orientação sexual deles também foi questionada, de acordo com sua pesquisa, 30,0% dos entrevistados eram mulheres não heterossexuais, enquanto apenas 15,2% eram mulheres heterossexuais (um número significativo de pessoas escolheu 'não sei' para esta seção). É possível concluir que 66% das mulheres que participaram eram sáficas, esse grupo supera todos os outros, com exceção dos homens heterossexuais. Os homens não heterossexuais representaram cerca de 2-3% do total da pesquisa.

Uma pesquisa não oficial no fandom internacional também foi conduzida, especialmente nos de lingua inglesa, The Yuri Fandom Demographic Survey. Nessa pesquisa com 695 pessoas, 47,19% se identificaram como mulheres, 44,31% se identificaram como homens e 8,49% se identificaram com algum outro gênero. Destes, 96,04% das mulheres escolheram uma sexualidade diferente de “heterossexual”, e o mesmo vale para 23,38% dos homens. 

Sabendo tudo isso podemos concluir que ao contrário do pensamento popular, yuri é em maioria feito por e para mulheres. Existem sim autores e leitores do gênero masculino, mas afirmar que o gênero é "fetichista" é uma afirmação bastante equivocada.

Fonte:


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

História yuri

Quando entrei na comunidade otaku era comum que chamassem as histórias de romance lésbico como yuri e as de romance gay como yaoi. No entanto mais tarde adotaram um termo mais atualizado e correto para o “yaoi”, o “BL”, e iniciaram-se muitas discussões entre fujoshis e anti-fujoshis nas redes sociais. Essas discussões acabaram chegando no yuri e algumas pessoas parecem esquecer que os dois não são o mesmo gênero e tem histórias diferentes, por isso decidi escrever esse texto hoje. No final dos anos 60 as mulheres mudaram radicalmente o mundo dos mangás como artistas, iniciadas pelo grupo conhecido em inglês como Magnificent 49ers. Elas se tornaram as primeiras a desenhar quadrinhos por e para mulheres e incluíram minorias sexuais e de gênero em seus trabalhos. Hagio Moto desenhou Toma no Shinzo ( Heart of Thomas [1974]) com elementos gays, e Riyoko Ikeda criou vários mangás que tratam do amor lésbico e incluiu até personagens transgêneros. Suas histórias, Oniisa...

"Her tears were my light" resenha visual novel

  Her tears were my light é uma visual novel de romance gl, contando com três finais diferentes, embora curta, a narrativa consegue ser cativante e reflexiva. A arte do jogo é muito fofa e a trilha sonora combina com a história. Antes de seguir com a resenha quero avisar que por ser curto não consegui não dar alguns spoilers(?) da história. A história do jogo se trata de um "triângulo amoroso" entre tempo, espaço e nada. O jogo inicia com o tempo saindo da escuridão e encontrando o espaço entre a luz das estrelas, chorando. Tempo é meio séria e espaço é mais animada e sensível, a relação que se constrói entre as duas é muito bonitinha, até que o tempo perde o espaço para o nada. O nada é como uma irmã gêmea, eu não diria má exatamente, do espaço, ela chegou antes e se apaixonou pelo tempo, mas acabou sendo substituída pelo espaço que podia criar as estrelas. Uma das habilidades que temos no jogo como o tempo é poder voltar ao passado, de primeira eu fiquei meio confusa com me...